segunda-feira, 25 de outubro de 2010

PAIXÃO POR MOTOCICLETAS


Verdade seja dita: ele sempre disse aos amigos que pretendia ter uma vida sossegada, que viveria exatamente como seus pares, que adotaria um comportamento padrão típico de um cara da sua idade que não precisa correr atrás de trabalho. Nada disso, o tempo voou, mas ele não parou! Continua estabelecendo desafios, criando seu próprio conceito do que dá ou o que não dá pra fazer. Pior: nunca deixou de acreditar que tudo é possível, mesmo o aparentemente impossível. Maluco? Não parece, mas há quem aposte que sim. Semana passada ele procurou um de seus melhores amigos para uma conversa. O papo:

“ Você sabe o que me faz roer as unhas, não sabe? Pois é, acho que andar de moto devia ser um ato corriqueiro quanto beber água ou comer. Ando de moto todo dia, não entendo como alguém pode viver tranqüilo sem ter uma motocicleta. É uma idéia fixa, você pode até entender as razões, mas não me conte, por favor. Talvez eu ainda não esteja preparado para entender o que passa dentro de mim. Porque banho é um ritual rotineiro e viajar em moto não?

Relaxe. Não estou pensando em lhe tirar de casa, de perto da sua família para sair por ai em uma motocicleta para desfrutar de lindas paisagens, conhecer novos lugares e novas pessoas. Estou apenas, aproveitando que estamos nós dois aqui, neste parque perto de casa, para comentar sobre essa minha, como andam dizendo por ai, insanidade. Insanidade é o cacete!

Você acredita mesmo que a sociedade estabeleceu as melhores regras para o jogo da vida? Família, profissão, maternidade, casa própria, previdência privada? Estarão mesmo todos de acordo? Não me lembro de ter sido consultado. Se fosse, certamente teria incluído nesta lista comprar uma moto.

As pessoas parecem resignadas à idade e á vida cotidiana, mas dentro de cada uma delas há talentos inexplorados, anseios adormecidos, projetos rascunhos e sabe-se lá quantas malas pra fazer. Não há viagem mais fascinante que percorrer o interior de nós mesmos. Não acredito que haja apena uma maneira de viver, com roteiro pré definido e aventuras toleradas. Não fique perplexo com o que digo, meu velho. Você já deveria ter se acostumado com esse meu discurso.

Resumindo: a utopia de um mundo onde todos andassem de motocicletas por puro instinto, virou playground dos meus neurônios. Não sei como você vai interpretar isso, mas cansei do normal. Quero fugir do estabelecido, do programado, do previsível. Quero sair de um jogo que estou ganhando, mas também estou perdendo. Vida interior! Nem cem anos bastariam para eu conhecer todas as pessoas e seres que me habitam.

Bem, estou falando faz um tempão e ainda não disse o que vim fazer aqui. Vou dizer agora. Antes, repare que eu estou arrumado, cabelo feito e limpo, que estou com unhas cortadas, que meu tom de voz não esta alterado, que meu olhar não esta parado., que meu tom de voz não esta alterado, que meu olhar não esta parado. Minhas contas estão em dia, que ainda piloto bem, sei que dia é hoje e em que cidade estamos. Ou seja, não há nada em mim que você possa usar para justificar uma internação. A novidade é o convite que quero lhe fazer. Pretendo entrar para o Guinness Book: vou fazer uma viagem sem fim, ficar rodando pelo mundo. Não estou querendo dizer que não vou mais ver minha família e meus amigos, não é nada disso. De vez em quando, sei lá de quanto em quanto tempo vou passar por Recife para rever a todos... Esta é uma viagem que eu venho pensando a algum tempo, e o que eu queria mesmo era lhe fazer um convite. Que tal, você comprar uma moto e me acompanhar?

O amigo pediu um tempo, mas não pode responder. A turma de casa o internou antes.”

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